6 de fevereiro de 2016
As Meninas - Lygia Fagundes Telles



Vencedor do Prêmio Jabuti de 1974, As Meninas, publicado em 1973, narra a trajetória das amigas Lorena, Lia e Ana Clara durante o ápice da ditadura militar brasileira e da revolta dos estudantes. 

 "A gente vê na rua todo mundo tão triste, por que as pessoas estão tristes? Ahn?" [...] [p 52.]

A história começa com a apresentação dos pensamentos de Lorena, uma moça rica, estudante de direito que está completamente apaixonada por um médico casado e muitos anos mais velho do que ela, algo que a torna motivo de piada entre as amigas. É preciso ressaltar que esse romance tem vários focos narrativos, transitando entre os discursos direto e indireto livres, com troca de narradores em primeira e terceira pessoa, algo que nos dá um panorama muito mais complexo e grandioso acerca dos conflitos internos e problemas externos das jovens, mas, para um leitor desavisado, pode transformar a leitura em um grande desafio e deixá-la até um pouco confusa. 

"milhares de coisas estão subtendidas. Nas entrelinhas. O lado omisso." [...] [p 75] 

A narrativa tem como tempo cronológico dois dias das vidas dessas moças, no entanto, o tempo psicológico é enorme e nos faz viajar da infância até meses antes dos fatos ocorridos no agora. 
Além da perspectiva de Lorena, temos também as de Lia, uma estudante de ciências sociais, engajada nas revoltas estudantis que está em grande aflição por não ter certeza sobre seu futuro e sobre a segurança de seu namorado Miguel, ou o destino político do país e Ana Clara, jovem atormentada por uma infância de abusos sexuais que tem como único objetivo de vida tornar-se uma mulher rica, a todo momento, ela reitera esse ideal dizendo "No ano que vem..." quando, acredita, estará casada com o noivo "escamoso". 

"Não gosto de ninguém. Todos uns bons sacanas que não perdem a chance de mijar na cabeça da gente. Agora quem vai mijar sou eu!" [...] [p 209]

Falando assim, talvez você não compreenda a dimensão que os pensamentos dessas garotas tomam ao longo da narrativa, elas estão vivendo tempos de revolução, de ditadura, de descobertas, principalmente de libertação da sexualidade, tendo que lidar com tudo isso sem contar completamente umas com as outras, pois essas meninas, apesar de amigas, são muito diferentes!
O romance também apresenta, a todo momento, uma saraivada de críticas sobre o comportamento da sociedade da época, além de conjecturas sobre o futuro da mesma. A personagem Lia nos traz várias reflexões verossímeis sobre o sistema vigente, e Lorena nos mostra como o burguês típico lida com tudo isso. Quando Ana Clara entra em cena, a narração fica extremamente confusa e quase sem nexo, visto que nesses dois dias a moça esteve drogada e bêbada. 

"Houve um tempo (longe, não?) em que estudávamos juntas. Lião e eu. Ana Clara não estava assim tão ambulatória-delirante, coitadinha." [...[ [p 227]

As meninas nos proporciona um mergulho pelos pensamentos de três personagens, aparentemente, arquétipos, mas que nos mostram que a mente humana vai muito além do prescrito e que a busca pela felicidade pode nos levar a caminhos completamente desconhecidos e surpreendentes... 

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