... e como "o lobo bom" parece ser mais uma obra inspirada em Crepúsculo...
Conheci a premissa de Beastars através dessa análise do canal Quadrinhos da Sarjeta e achei a história bem interessante, mas sabe quando você sente que já leu ao assistiu algo parecido, e não lembra a referência? Pois bem, assisti ao anime, que está disponível na Netflix, e comentei com uma amiga, e ela me vem com o seguinte comentário: nossa, essa história lembra muito Crepúsculo, só que com animais falantes. E não é que parece mesmo? E eu vou explicar por quê.
Beastars - o lobo bom, como ficou conhecido aqui no Brasil, é uma animação com três temporadas, finalizada esse ano. A série é adaptação do mangá de mesmo nome escrito e ilustrado pela autora Paru Itagaki e têm como protagonista um lobo cinzento, Legoshi, uma coelha anã branca, Haru, e um veado vermelho, Louis, todos cursando o ensino médio na mesma instituição.
O mais instigante em Beastars é essa reimaginação da nossa sociedade, agora com animais, ou seja, não existem humanos; e carnívoros e herbívoros coexistem, em tese, pacificamente. Só que, sabendo ser essa uma um espelho da nossa própria sociedade real, a gente já sabe que não é bem assim... Até por que o primeiro episódio da primeira temporada começa com um assassinato: um estudante carnívoro devorou um estudante herbívoro, sendo este último um grande amigo de Legoshi, o que deixará o lobo bom muito desolado e desacreditado de sua "classe".
As reviravoltas não param por ai e é nesse momento que o elemento Crepúculo de apresenta na narrativa, isso porque Legoshi vai sentir uma atração irresístivel pela coelha anã branca, Haru, contudo, ela, diferente de Bella Swan não é uma mosca morta, e sim uma verdadeira predadora sexual que não se deixa intimidar por ninguém, muito menos por um lobo cinzento com o triplo de seu tamanho. Haru é uma personagem complexa que tenta driblar uma condição de herbívoro fraco e diminuto sendo uma predadora onde ela consegue: na cama; isso causa a ela muito solidão, visto que as outras fêmeas têm muita raiva e despeito por ela, contudo, para Haru, é melhor estar sozinha do que cercada de pessoas que tenham tão somente pena dela.
Legoshi vai entrar em um dilema moral muito grande, pois ele não sabe se sente atração pela coelhinha porque ela é mesmo muito atraente, ou porque ele quer devorá-la, no sentido literal e carnívoro da palavra mesmo. No final da primeira temporada ele consegue ter uma delimitação maior de seus sentimentos, porém, sua estatura e força ainda o assustam muito e ele não se deixa ficar com a Haru por medo de machucá-la e esse medo se mostra totalmente plausível, quando, no começo da segunda temporada, descobrimos quem matou Tem ( o jovem herbívoro devorado no primeiro episódio) e vemos outras situações assustadoras envolvendo um casal formado por uma herbívora e um carnívoro.
Beastars é uma obra muito interessante, divertida com diversas reflexões políticas e sociais e que reflete muito bem, de forma alegórica, o racismo estrutural da sociedade, a luta de classes, a desigualdade e a corrupção, mas juntamente a tudo isso traz também uma nova interpretação do dilema imaginado por Stephanie Meyer, em Crepúsculo, e o faz de uma maneira plausível, linda e super instigante, nossa, é perfeito.
Espero que você, fã de Beastars, não veja essa comparação como algo negativo, ela só é o que é. É tolice negar que Crepúsculo não influenciou a produção literária de 2008 para cá e é muito legal encontrar uma obra que o fez de maneira a não testar a nossa inteligência, usando pautas sociais de maneira responsável e nos dando um entretenimento de qualidade que não apenas cumpre a função estética da arte, mas também a catártica, ou seja, nos faz refletir, nos faz avaliar a sociedade ao nosso redor e vê-la com outros olhos.
Além do improvável casal, outra personagem de grande destaque na trama é Louis, a trajetória de vida dele, de pequeno cervo vítima de tráfico no mercado ilegal de carne, à filho adotivo de uma das famílias de herbívoros mais rica, poderosa e influente nessa sociedade é cheia de altos e baixos e reviravoltas; sendo bem sincera com vocês nunca teria imaginado o destino que Louis tem na segunda temporada, nunca mesmo. Ele é a pessoa mais lúcida e pé no chão dentre os protagonistas, até porque Louis não pensa apenas em seus dilemas pessoais tal como Legoshi e Haru, ele pensa no todo, no futuro dessa coexistência tênue e facilmente quebrável entre herbívoros e carnívoros e isso, meus querides, é incrível demais.
Só posso dizer que Beastars vai deixar saudade e já estou me preparando para adquirir os mangás e analisar a fonte da adaptação que tanto gostei e admirei. E você? Já assistiu Beastars? Gostou? Não gostou? Diz para gente nos comentários.