18 de julho de 2018
Memorial de Aires: a vida de um aposentado no século XIX.


Não é segredo para ninguém que sou grande fã do incrível Machado de Assis. Já li quase todos os seus romances, mas ainda não conhecia a narrativa Memorial de Aires, último livro escrito pelo autor e publicado no ano de sua morte, 1908. 
Sinceramente, eu não sabia nada a respeito dessa história, só vi o nome de Machado de Assis na capa e decidi lê-la. Engraçado. Esse livro se parece muito com outras obras do Realismo Machadiano, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, e ao mesmo tempo tem várias diferenças, o que é muito bom. 
Em Memorial de Aires, temos acesso as entradas do diário do Sr. Aires, um diplomata aposentado que passou grande parte de sua vida na Europa e que agora está aproveitando o ócio de sua velhice em sua cidade natal, o Rio de Janeiro. Aires é um homem extremamente perspicaz e mostra-nos seu cotidiano e o de seus amigos e familiares de uma maneira interessante apesar de sabermos que no fundo nada daquilo nos é atraente. 
Isso nos faz refletir sobre o que é importante. Todos que escrevem um diário o fazem porque acreditam ter algo digno de nota em seus dias. Assim faz o nosso protagonista. Sem nenhuma grande pretensão ele nos conta o passar de seus dias.
Através dele, conhecemos algumas pessoas da sociedade carioca, sendo as mais notáveis para o narrador, a viúva Noronha e seus amigos, o casal Aguiar. A primeira, instiga uma aposta entre Aires e sua irmã, visto que a viúva, ainda muito jovem, perdeu o marido há pouco tempo e muitos dizem que ela não voltará a casar-se, contudo, nosso narrador é contrário a esse ponto de vista. Os segundos, trazem um certo tom autobiográfico ao texto, pois o casal Aguiar assemelha-se muito ao casal Assis. Ambos se amam muito, vivem pacatamente, não têm filhos... Até os nomes são parecidos! Tudo leva a crer que esse livro foi realmente um memorial, não da personagem Aires, e sim do próprio Machado de Assis.
É claro que o narrador vai nos mostrar o desenrolar dessas vidas. Será que a viúva Noronha casa ou continua sofrendo pelo falecido? A vida dos Aguiar é mesmo pacata ou eles têm dificuldades? Tudo isso e um pouco mais é descrito ao longo das entradas do diário, todas de maneira muito leve e divertida. 
Como era costume do autor, essa narrativa não traz uma história única ou mesmo linear, porém, não se preocupem, sua construção é bem diferente de Memórias Póstumas ou Dom Casmurro. A leitura flui rapidamente, os "capítulos" são curtos e a obra em si tem menos de duzentas páginas. Memorial de Aires não é uma história extraordinária, nem apresenta os traços característicos do Realismo Machadiano. É, de fato, um livro despretensioso de memórias de uma pessoa que viveu sua vida da melhor maneira possível. 

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