3 de agosto de 2016
Tess - Thomas Hardy

Capa com imagem do filme de Polanski
(ainda não vi o filme)
Olá, pessoal! No final do ano passado, falei a respeito de uma mini-série da BBC britânica chamada Tess of the U'rbervilles que simplesmente adorei e disse que leria o livro o mais breve possível. No início desse ano, consegui comprar uma edição antiquíssima da obra, mas o que vale é a história, certo! E que história, minha gente, que história...! 
Tess (título em português porque em inglês é o mesmo da série) narra a história de Theresa Durbeyfield, uma jovem camponesa que descobre ser membro de uma extinta e muito tradicional família nobre da Inglaterra, por causa disso, os pais da moça, duas pessoas inconsequentes, decidem mandá-la para a casa de uma "prima", lá, a menina conhece o filho da senhora: Alec U'rberville e é a partir desse encontro que tudo na vida dessa protagonista se transformará.
Genna Artenton como Tess da série de 2008. 
A narrativa é dividida em fases que mostram algum momento crucial da vida da personagem, sob o ponto de vista de um narrador onisciente. Temos também uma crítica ácida por parte do autor contra os exageros e falso moralismo da sociedade vitoriana, tanto é que a edição original tem como subtítulo "A pure woman faithfully" que poderia ser traduzido como "uma mulher fielmente pura", ou algo assim. Com esse subtítulo já percebemos de cara a intenção de Hardy que é mostrar o quanto Tess foi vítima não só de Alec, como de sua família, das convenções sociais, de si mesma e o pior: do homem que ela realmente amava... 
Como disse na resenha da série, esse livro faz parte do movimento realista inglês, ou seja, as relações aqui presentes são todas esmiuçadas e desprovidas de idealismo e apelo românticos, na verdade, quando pensamos que Tess ficará feliz e terá sua "redenção", o destino nos dá uma rasteira e nós ficamos tão desolados e abandonados quanto ela... 
Para não ficar me repetindo, afinal, a série é muito fiel ao enredo da obra original, vou tecer aqui o perfil do triângulo "amoroso" dessa história para que vocês percebam o quão reflexivo e crítico esse livro é, além de demonstrar muito bem a ambiguidade dos seres humanos. 

Eddie Redmayne (Angel), Genna (Tess) e Hans Matheson (Alec)
Tess - representa a parte humilde e que mais sofre com as repressões sociais. É enviada pelos pais para acasa dos U'rbervilles sem que aos menos soubessem se de fato eram parentes, o que acaba resultando na tragédia que se abate na vida da garota. A todo momento, Tess se culpa pelo ocorrido e deseja morrer por causa disso, sendo que ela não fez absolutamente nada de errado! Era apenas uma criança... 

Alec - é o opressor, representa a hipocrisia da sociedade vitoriana e todos os seus vícios. É um burguês que comprou um título de nobreza e com ele o nome da família nobre... Esse fato evidencia ainda mais o caráter dúbio do rapaz, pois, desde o início ele sabia não ser parente da protagonista. Tem uma obsessão sem limites por ela. Perto do fim, diz ter-se "convertido", no entanto, ao reencontrá-la é como se toda a sua maldade viesse a tona... Ele não suporta o fato de não conseguir comprar o amor da moça. Quando se converte, o pior de tudo é que ele culpa a própria pelo que ELE FEZ! Diz que a moça o enfeitiçou, que ela desperta tudo o que de pior há nele... E mais: a sociedade perdoou completamente o crime que Alec cometeu, no entanto, Tess já não teve essa sorte... 

Angel - é o burguês "pseudo-intelectual" e de pensamento "vanguardista", aquele que na frente dos outros, em situações triviais desdenha das convenções, mas quando de frente a uma situação crítica, abraça essas mesmas convenções e torna-se tão ou mais preconceituoso do que a pessoa que pensávamos ser o único antagonista de Tess...


É importante perceber que ambos os homens contribuíram para destruir a vida dessa moça. Alec tirando-lhe a honra e Angel desiludindo-a, fazendo Tess acreditar que ele era diferente e que a aceitaria mesmo com a reputação "manchada" e, no fim, é ele quem a mais recrimina e humilha... 
Em um século no qual muito se fala a respeito do papel da mulher na sociedade e do empoderamento feminino, narrativas como Tess servem para nos mostrar que muito antes de nós, a literatura já tentava mostrar a sociedade seus erros e sua falta de piedade. Para alguns, o final desse livro pode ser clichê, os pensamentos da protagonista degradantes, mas precisamos lembrar que essa moça viveu no século XIX e fazia parte da classe mais ínfima da sociedade, ela não tinha escolhas e dependia totalmente da aceitação e ajuda dos homens, por esse e por outros motivos, preparem-se, pois esta é uma leitura densa, triste, simbólica e muito revoltante. 

PS: minha edição é de 1984, mas e editora Pedrazul está relançando esse livro e já está na pré-venda! Caso queira conferir, clique aqui

16 comentários:

  1. Adoro séries britânicas, principalmente as de época, pois na Europa se tem muita história boa para se contar. Não conhecia a série, mas vou procurar com certeza.
    Beijinhos, Helana ♥
    In The Sky, Blog / Facebook In The Sky

    ResponderExcluir
  2. Achei as imagens da série bonita, mas a história me parece meio chata. No entanto, eu sou completamente viciado em histórias com figurinos vitorianos (o doido do steampunk, prazer) e provavelmente só veria a série pela fotografia. Não me interessei muito pelo livro, sinceramente, me soa como um romance de época qualquer. Mas que bom que tu gostou, beijos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Como adoro romances da escola realista sou suspeita para falar alguma coisa, mas espero que possa assistir à série.

      Excluir
  3. Oi Andrea, como vai?
    Esse livro parece ser bem interessante, um literatura clássica que de maneira simples e simbólica nos passa muita coisa. Muitas reflexões, ensinamentos e tudo o que nos faz pensar em como devia ser difícil para uma camponesa no século XIX.

    Beijos

    -Ricardo http://lapsodeleitura.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Essa história é muito boa mesmo! Um dos melhores romances realistas que já li! =)

      Bjss

      Excluir
  4. Adorei os atores e os figurinos bem trabalhados, mas esse não parece ser meu gênero de série, talvez poderia dar até uma chance para o livro quando ele for relançado, mas obrigada pela dica, bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acredito que o livro saia da pré-venda em Outubro. Com certeza, será uma excelente leitura!
      Bjss

      Excluir
  5. Olá! Coitada da Tess, pelo que você falou ela passa a serie inteira sofrendo. Mas não me interessei muito pela história, então deixarei a dica passar dessa vez...
    Beijos,
    sigolendo.com.br

    ResponderExcluir
  6. Oiii, como vai?
    Realmente me apaixonei pelas histórias que tu escolhestes, não tenho muita vontade de ler, mas gosto de séries assim <3 dica super anotada.
    Beijinhos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Morgs!
      Tanto a série quanto o livro são muito bons, recomendo ambos!
      Bjss

      Excluir
  7. Oi, nossa fique "com peninha" da Tess, me pareceu que ela sofre o o livro inteiro, e já imagino que entre esses dois "companheiros" seu final não foi feliz. Talvez eu lesse o livro sim, gosto de romances de época, mas a série eu não veria. bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não quero dar spoilers, mas o final das três protagonistas é bem trágico, porém realista.
      Bjss

      Excluir
  8. Fiquei super interessada depois que li o seu post, confesso que ainda não tinha ouvido falar do livro e nem da série. A história me parece interessantíssima, principalmente pelo fato de tecer críticas à sociedade da época, adoro ler livros assim.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Amanda!
      Obrigada pelo comentário! Que bom que gostou do post! Infelizmente, poucas pessoas conhecem Thomas Hardy aqui no Brasil, mas espero que possa ler e conhecer melhor essa história! O livro já está sendo relançado e a série está na Netflix! =)
      Bjss

      Excluir

Comentar leva apenas alguns segundos...Sua opinião é muito importante! =D