24 de setembro de 2015
Leituras da FUVEST - 4# Romance Realista Brasileiro


Livro que inaugura o Realismo no Brasil, Memórias Póstumas de Brás Cubas, segundo Ivan Teixeira, superou essa escola literária, surpreendendo leitores até os dias de hoje.

"Ao verme que primeiro roeu  as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas"

Você com certeza já ouviu em algum momento de sua vida esta proposição, mas você sabia que nela nós já temos duras críticas direcionadas a sociedade da época? A primeira está no âmbito afetivo, visto que as únicas duas pessoas que realmente amaram Brás Cubas - seu pai e sua mãe - morreram cedo, ao encontrar ele mesmo a morte, já não tinha entes queridos para dedicar suas memórias, preferindo fazê-lo aos vermes. A segunda está no âmbito econômico, pois, mesmo com todo o progresso eminente que vivia o Ocidente do século XIX, o Brasil ainda era agrário e escravocrata, não existia livre comércio, nosso país ainda era um Império e só alcançaria a República nove anos após a publicação das Memórias. 
Um grande erro que algumas pessoas cometem é pensar que Machado de Assis criou a narrativa póstuma, não, ele não fez isso! A primeira história contada por um morto foi O diálogo dos Mortos, de Luciano de Samósata, no qual a personagem Menipo narra  os acontecimentos de sua vida no além túmulo, e adivinhem só: ele faz isso usando muita ironia e sarcasmo, dando origem ao gênero que chamamos hoje de "sátira menipéia". Machado de Assis foi um grande escritor, mas ele não inventava nada, sua genialidade está no ato de pegar algo já feito e melhorá-lo, transformando-o em algo inovador, esse foi seu grande trunfo. 
Nesse livro, como já dito, conheceremos a vida de Brás Cubas, rapaz rico que nunca precisou ganhar dinheiro com o suor de seu rosto, mas essa história nos será narrada após a morte do mesmo, por esse motivo, não há filtro algum, agora, morto, Brás pode dizer tudo o que pensa de tudo e de todos sem se preocupar com represálias, afinal, morto ele já está, ninguém mais pode fazer-lhe mal. 
As características predominantes na obra são a corrente filosófica pessimista e a intertextulidade, você precisa estar atendo a todas as alusões e citações clássicas que o narrador-personagem colocará na narrativa, mostrando toda a sua erudição, infelizmente isso pode confundir e cansar leitores mais jovens, no entanto não desista! 
O pessimismo, corrente filosófica que eu adoro, foi criada pelo alemão Arthur Schopenhauer e pode ser definido como a descrença na vida, o desencantamento no mundo, ou seja, uma visão negativa das perspectivas humanas em relação a sua existência, que por sua vez é condicionada a  acontecimentos trágicos, porém, com algumas nuances de humor, sempre  acarretando no sofrimento dos indivíduos. É esta descrença na humanidade que vemos ao longo de toda a obra e que já é apresentada no princípio desta, mostrando o quão fúteis e inúteis eram as relações humanas para o homem do século XIX. 
Eu poderia falar muito mais a respeito desta obra, entretanto, para compreende-la em seu todo é preciso ler e ter contado com a narrativa Machadiana.

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